Quando a inteligência de dados bateu à porta da propaganda, deu início a uma revolução no mercado. Chegou-se a crer que, sozinhos, os números milagrosamente seriam capazes de dar conta dos objetivos das marcas de impactar seus targets. Depois de decantada essa euforia inicial, a percepção é que, sem combinar dados com conteúdo e criação, algo de essencial se perde no caminho. Não há efetiva conexão de público e marca. “Nós que trabalhamos na indústria da comunicação temos como maior desafio não perder a conexão com as pessoas. Os dados são importantes, mas uma pessoa não é uma planilha. Por mais que se sofistique a coleta e a análise do dado, aquilo é um dado, não é uma pessoa”, afirma José Eustachio, chairman da Talent Marcel. Ele foi o vencedor do Prêmio Affonso Serra, oferecido pelo Grupo de Atendimento a profissionais cujas carreiras contribuem com a evolução do mercado, durante o evento GA Summit.
O momento agora, segundo a visão de Eustachio, que desde os anos 1980 participa ativamente das transformações da indústria publicitária, é de chegada a um equilíbrio entre dados e criação de conteúdo. “Quando a onda de data surgiu, era uma coisa selvagem. Não havia muito limite ou controle. Depois veio a rebeldia de negar tudo o que veio antes. Agora, a realidade vai mostrando que os dados não tinham aquele poder milagroso. E estamos entrando num período de maturidade”, diz. Para ele, na convivência dos dados com outras disciplinas e recursos que existiam antes, há uma harmonização maior. “Há uma consciência de que não é necessário negar tudo para justificar o seu valor.”
No meio de toda essa revolução que os dados impuseram ao mercado, com agências tendo de reinventar seus modelos de negócio enquanto lidavam com um cenário de crise no país, a Talent Marcel continuou crescendo. A agência dobrou de tamanho em dois anos. Faturou cerca de R$ 3 bilhões em 2016, contra R$ 1,5 bilhão em 2014. No ano passado, subiu da 20ª para a 9ª posição do ranking Kantar Ibope Media de investimentos brutos em mídia. E, neste ano, escalou mais três posições, para a 6ª. Os números de faturamento de 2017 ainda não fecharam, mas a trajetória segue ascendente.
A entrada para o grupo Publicis Worldwide em 2015 obviamente explica parte relevante dos números. Mas, para Eustachio, outra parte vem do fato de a agência ser referência de crescimento em cenários adversos. “O mercado reconhece que a Talent Marcel é uma das agências que mais conseguem obter eficácia e ajudar os clientes a prevalecer num ambiente hostil. Quando veem que realmente precisam de uma agência que ajude a enfrentar um contexto cada vez mais difícil, no radar aparece a Talent Marcel.”
Como é possível prosperar na adversidade? A resposta, segundo ele, está nas pessoas. “Nós levamos ao paroxismo a ideia do talento coletivo. Radicalizamos a nossa crença de que quanto mais complexos são o mercado e os problemas que se apresentam, mais precisa funcionar o modelo de soma de competências. Talent Marcel verdadeiramente é um lugar onde o talento de cada um não é desperdiçado.”
Minibio
A trajetória profissional de José Eustachio se confunde com a história da Talent, hoje Talent Marcel. Formado em relações públicas pela Faculdade Anhembi Morumbi em 1978, iniciou sua carreira em uma agência, como estagiário. Mas ao receber o convite de Julio Ribeiro, que fundava a Talent em 1980, decidiu encarar o desafio de assumir grandes responsabilidades em uma agência que começava do zero. De diretor de conta, foi a VP, sócio, CEO, e hoje é chairman.