Um novo normal se instala durante a pandemia de covid-19. “Estamos vivendo uma situação nunca vista antes em tempos modernos. Uma situação como essa traz mudanças profundas no nosso comportamento e, consequentemente, na nossa relação com empresas e marcas”, disse Valkiria Garré, CEO de Insights Division, da Kantar Brasil, durante a webinar “Covid19 – Impactos no consumo e nas marcas no Brasil”.
O estudo analisou a retomada da atividade econômica em Wuhan, na China, o primeiro epicentro da pandemia, após quatro semanas de lockdown. As curvas de consumo, comparadas com as de alguns países da Europa, ajudam a traçar cenários possíveis para o Brasil.
“Nosso time mapeou diferentes cenários futuros para a covid-19. Em qualquer um deles, a única certeza que temos é a de que voltaremos a um novo normal”, diz a CEO. Ela ressalta que, no curto prazo, mudanças já notadas em hábitos de trabalho, entretenimento e compras podem se tornar ainda mais drásticas com o agravamento da pandemia. Na reabertura, um novo estilo de vida estará posto. “Após tantas experiências num curto espaço de tempo, não há como sair da crise da forma como entramos.”
Veja quatro pontos que devem moldar respostas à nova realidade, segundo a Kantar.
1. Marcas que ajudam consumidores
Ter um propósito de marca nunca foi tão necessário para a sobrevivência dos negócios. Neste momento de crise, cresce o número de consumidores que esperam das marcas ações de impacto social mais profundo. Na segunda onda do “Thermometer: Covid-19”, da Kantar, 28% dos respondentes disseram esperar que marcas ajudem no dia a dia dos brasileiros, uma alta de sete pontos percentuais em relação à primeira onda.
“Marcas que mostram propósito claro, amplamente divulgado entre seus consumidores, crescem mais ao longo dos anos. Agora é o momento de as marcas evoluírem esse propósito com o pensamento social, e repensar a comunicação com base nesse novo normal”, diz Valkiria.
2. Virtualização do varejo
A covid -19, ao forçar o isolamento social, tem sido um catalisador para mudanças no comércio que eram esperadas no longo prazo. “Essa adoção acelerada dos canais digitais mudará o jogo para antecipar um mundo omnichannel do varejo”, diz a executiva.
Um indicador importante é o de pessoas que aumentaram a quantidade de compras por meio de e-commerce. A fatia subiu de 19% para 34% entre a primeira e a segunda ondas da pesquisa. Outro é o de consumidores que adotam o comércio eletrônico pela primeira vez. “Principalmente no ramo de alimentos a gente vê uma mudança forte de cenário com a entrada de novos compradores.” O segmento é líder entre as pessoas que dizem terem comprado pela primeira vez pela internet (17%).
3. Individualismo dá lugar à coletividade
Se o momento anterior à covid-19 podia ser simbolizado pelo individualismo das selfies, o pós-pandemia deve ser o da coletividade. Segundo a Kantar, 21% dos brasileiros acreditam que temos de reagir juntos à pandemia (uma alta de 11 pontos percentuais em relação à primeira onda).
“Vivemos numa era de individualismo e status, mas o momento atual faz com que, olhando para o lado, a gente esteja exposto a experiências de dificuldades e sacrifícios, que fazem com que a cooperação e a generosidade aflorem”, diz a CEO. “Essa nova realidade de humanidade compartilhada é onde as empresas devem estar, mostrando que são valores que praticam internamente.”
4. Rotinas hiperconectadas
As rotinas se transformaram em função do isolamento. De acordo com o levantamento, 72% disseram que a situação do coronavírus tem impactado seu dia a dia (4 pontos porcentuais acima da onda anterior). E a digitalização da vida se acelerou. “As pessoas se abriram para novas experiências online, novos canais de compra, e novas formas de se conectar com o mundo para continuarem a ter uma vida ativa.”
O consumidor sairá da crise hiperconectado, tendo experimentado tudo que os canais digitais podem oferecer. “Para as marcas, a mensagem é clara: todas precisam de uma presença digital forte. E é importante garantir uma experiência positiva e surpreender sempre com novas formas de oferecer produtos e socializar.”