Gramado irá coroar a potência de mulheres negras. Na cidade turística predominantemente branca, o evento Digitais Pretas Summit pretende celebrar a liderança de mulheres afroempreendedoras, promover trocas e inspirar. A iniciativa é de Néllys Corrêa, que se tornou uma referência regional ao fundar a Digitais Pretas, uma rede de apoio e empoderamento que orienta, no mercado e nas redes, negócios e marcas de mulheres racializadas.
“Esse evento, que é uma ousadia, foi criado para que a gente consiga mudar a história e fazer com que uma das cidades mais europeias do Brasil, mais brancas do Brasil, aplauda e coroe pessoas pretas. E para que a gente entenda que nosso lugar é onde quisermos estar. Juntas, conseguimos promover mudanças na estrutura”, diz Néllys.
O Digitais Pretas Summit deverá receber nomes como a apresentadora Cris Guterres, a bailarina e atriz Luana Bandeira e a especialista em tecnologia Solange Feliciano. Será no dia 22 de setembro, no Expogramado.
Ex-lojista de roupas, há três anos, Néllys passou a se dedicar à Digitais Pretas. A rede que, segundo ela, começou entre amigas, ganhou corpo quando ficou claro o poder de criação de mulheres pretas unidas. “Iniciamos completamente sem pretensão. Era um grupo de amigas para tomar café e se sentir fortalecida. O início foi uma questão do empoderamento somente na internet”, diz.
Mas, assim que o primeiro evento, em 2021, se tornou realidade, o propósito se fortaleceu e ampliou. E o marketing passou a ser ferramenta fundamental para o posicionamento, tanto da Digitais Pretas quanto de suas integrantes. O nome da rede, inclusive, revela a direção desse marketing. O duplo sentido de “digitais” fala, ao mesmo tempo, da importância das estratégias digitais, e da valorização das identidades de cada mulher negra.
“O que eu percebi, quando entrei nas redes em 2020, é que os perfis eram extremamente padronizados. Se você não fosse uma jovem, de pele clara, com corpo super em forma, não tinha destaque. E entendi a necessidade de ressaltar minhas próprias características para ocupar o meu espaço. É a mesma coisa com uma marca de afroempreendedora. Cada empresa é uma. E quando entendemos que nossas diferenças servem para alavancar nossos negócios, conseguimos usar uma estratégia para progredir.”
Esse direcionamento, segundo ela, se apoia em três “Cs”: conhecimento, constância e “cara de pau”, brinca. “É preciso conhecimento pessoal e da marca, entender que muitas vezes você não vai precisar inventar a roda, apenas entender onde sua roda é diferente. Tem que ter a constância, tem que estar ali, se mostrando. E a cara de pau, na verdade, são as conexões. Porque é muito importante estar conectada com outras pessoas e não ter vergonha.”
O que leva ao próximo passo. Segundo Néllys, não basta se nutrir da força conjunta, é preciso também se expandir para outros territórios. “Para a gente conseguir sair da nossa bolha. Estamos falando de um grupo racializado, mas não vivemos num grupo só de mulheres pretas. Então, a gente precisa dessa cara de pau de nos mostrar, de fazer networking, e ocupar espaços que antes não acreditávamos que eram nossos.”
E por isso ela vê de forma positiva a relação com marcas. “Hoje estamos num período de bastante abertura de empresas e marcas, olhando para a diversidade. Entendo que parte disso é marketing, mas a gente tem de se aproveitar desses espaços, para que mais oportunidades se tornem reais. Porque muitas vezes vamos conseguir entrar em novos lugares com alguém dentro abrindo as portas.”