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Gabriel Besnos, da Bistrô: marcas precisam fazer as pazes com público brasileiro

Imagem: Divulgação

Da porta para dentro e na comunicação com o público, as organizações ainda estão aquém de representar o Brasil como ele é. Isso produz ruído e distanciamento na relação das marcas tanto com seus colaboradores quanto com seus consumidores, segundo Gabriel Besnos, VP de Criação e sócio na Agência Bistrô, de Porto Alegre (RS). “As marcas precisam fazer as pazes com o público brasileiro. Isso não é só uma demanda social, é uma demanda do capitalismo”, afirma.

Segundo Gabriel, quando se cria um ambiente diverso, a cultura interna se torna mais acolhedora e produtiva. “As pessoas trabalham mais focadas na produtividade do que preocupadas em se esconder. Porque elas não precisam temer não se encaixarem. Pelo contrário, as diferentes formas de ser são acolhidas, abraçadas e valorizadas.”

Ele fala por experiência própria. Em abril, a Agência Bistrô conquistou o primeiro lugar em dois rankings do Great Place To Work Diversidade: Étnico-Racial e LGBTI+. A agência foi reconhecida pelos efeitos de políticas internas adotados de forma consistente há cerca de cinco anos, como o Censo de Diversidade semestral, estabelecimento de metas e letramento de lideranças, que se refletiram nos quadros: dos 70 funcionários, 50% são mulheres, 28%, negros, e 47% membros da comunidade LGBTI+. Na liderança, o peso da diversidade aumenta: a maioria é feminina (60%), 40% são negras e 27%, LGBTI+.

Para o negócio da agência, a atenção à Diversidade Equidade e Inclusão (DEI) contribui para reter talentos, algo que é um desafio para empresas de publicidade. “Meu turn over diminui. E isso toca em algo muito crítico que é o troca-troca nas agências que impacta diretamente na qualidade de serviço para o cliente. A gente consegue reter talentos e também atrair pessoas.”

Além disso, ao formar equipes com olhares diversos, há uma maior abertura para a inovação. “Quando tenho mulher indigena, gay, trans, discutindo um lançamento de um produto, tenho diferentes perspectivas para agregar na ideia, juntar na mesma mesa para contribuir.” Isso se reflete desde os pequenos processos do dia a dia, como escolher fotos em bancos de imagens, até no planejamento estratégico de campanhas.

Ele exemplifica com o case para a marca Dakota, que teve como protagonista a atriz Juliana Paes ao lado de influenciadoras negras e PCDs que co-assinaram a coleção de calçados. A ideia partiu de um social listening atento ao que pessoas com deficiência estavam demandando. “Quando a gente consegue ter um olhar transversal de diversidade no cotidiano, isso entra de maneira orgânica numa campanha. E eu chamo Juliana Paes, Liliane Rocha, Paola Antonini para estarem juntas. Esse olhar permitiu criar um squad de mulheres diversas que representam narrativas femininas, junto com a Dakota.”

Outro valor de uma equipe diversa dentro da agência é o de fomentar um senso crítico na equipe, que ajuda a evitar posicionamentos equivocados. “Eu costumo dizer que todo mundo é o CEO do ‘vai dar merda’, todo mundo tem a responsabilidade de olhar a partir da sua perspectiva, e a gente não quer verticalização nisso. Temos esse escrutínio interno quando há mais diversidade de vivências. A gente consegue construir discursos que, claro, não são infalíveis, mas mais depurados, minimizando violências reptícias que acontecem quando o grupo é muito homogêneo.”

Gabriel considera o trabalho com DEI na Bistrô como uma missão de vida. Ele, um homem gay, e sua sócia, idealizaram desde o início uma agência que tivesse a inclusão como pilar. “A ideia surgiu ao redor de mesas de restaurantes e bares da universidade. Tivemos a ideia de construir uma empresa que não sabíamos o que iria se tornar, mas que fosse um lugar onde a gente gostasse de trabalhar, se sentisse acolhido, seguro, que não visse discriminacao. E de maneira muito orgânica fomos trilhando essa trajetória, até a inclusão se tornar sistemática.” A Bistrô, além de campanhas, também oferece consultoria de diversidade organizacional aos clientes.


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