Gamer malha, compra roupas, vai ao supermercado. “É preciso quebrar o paradigma entre as marcas de que quem gosta de eSports são sempre nerds gordinhos sentados. Gamer não consome só eletrônicos, ele consome qualquer produto do dia a dia: vestuário, alimentação, aplicativos, produtos financeiros”, diz Tsai Chung Yu, fundador da Talent Experts, agência especializada em marketing para eSports. Para ele, as marcas que visualizarem além dos estereótipos vão encontrar um campo vasto para ações de impacto junto a um público aberto e engajado.
O executivo lembra que a modalidade, como qualquer outro esporte, atrai a atenção não apenas de quem joga, mas também de uma plateia diversa que gosta de acompanhar e torcer. “Nem sempre quem assiste joga. Essa proporção já está meio a meio. Hoje tem pais assistindo junto com filhos, adultos fãs de jogos eletrônicos, namoradas e outras mulheres interessadas em game.”
Segundo dados do levantamento Global eSports Market Report, da agência Newzoo, as mulheres já representam 30% do público para a modalidade. E, se olhada apenas a audiência masculina, o maior público está na faixa de 21 a 35 anos (53%). “Os meninos gostam de jogar, mas precisa de maturidade para entender um campeonato transmitido ao vivo. E o poder aquisitivo desse público é grande.” No Brasil, os campeonatos de eSports alcançaram 59,6 milhões de visitas em 2017, segundo dados de Riot Games, Ubisoft, YouTube e plataforma Twitch. E grandes marcas, como Red Bull (uma das pioneiras em patrocínios na modalidade), Vivo (que patrocina a equipe Keyd Stars), Lacta e Trident, já se fazem presentes.
Pensando nas oportunidades geradas por um público crescente, Chung criou há dois anos a agência que gerencia a relação entre atletas profissionais de eSports e empresas. Além de dar suporte à carreira dos jogadores, a agência planeja campanhas e projetos de conteúdo. Em parceria com o UOL, a Talent Experts já realizou campeonatos como o do jogo Rainbow 6 (que alcançou 4,3 milhões de views em 2017), ou mesmo torneios específicos para marcas, como o Batalha de Precisão, para a Gilette. Com essa parceria, os patrocinadores contam com uma audiência qualificada.
A geração de conteúdo é o principal pilar para as ações de eSports. “O conteúdo aumenta o engajamento do público e o número de horas assistidas. A partir de um campeonato, é possível criar todo tipo de conteúdo em volta da competição, como mesas redondas, melhores momentos, dia a dia dos atletas, talk shows”, exemplifica. E tudo isso é terreno para a publicidade.
Segundo Chung, o fã de eSports é bastante aderente às ativações e experiências de marcas. “Esse público abraça demais as marcas que estão dentro desse universo. Os apaixonados por eSports gostam de quem incentiva”, diz. Ele afirma que, por causa disso, o recall é forte. E se lembra de empresas, como a Fisk, que já patrocinaram times e, mesmo depois de um tempo após retirarem o apoio, ainda são lembradas pelo público, segundo pesquisas internas da agência.
Chung explica que o mercado de eSports cria um espaço de ação tanto para marcas endêmicas (as relacionadas ao game em si, como equipamentos eletrônicos, acessórios e softwares), como as não-endêmicas (qualquer produto ou serviço que atenda ao público de eSports). Por isso, vive um momento de ascensão rápida. A tendência é que cada vez mais atraia o interesse de empresas. “Dentro de dois ou três anos, o segmento vai se tornar algo de extrema relevância para o mercado publicitário”, acredita Chung.
Minibio
Tsai Chung Yu é engenheiro formado pela Escola Politécnica (USP). Passou por Braskem na área de planejamento industrial. Migrou para a área comercial de uma importadora de componentes eletrônicos. Apaixonado por games, decidiu empreender em uma empresa de importação de computadores para jogos, a MSI. Seu contato com o mundo gamer o levou a abrir a Talent Experts, que agencia atletas profissionais de eSports.
