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Felipe Silva, da Gana: potência brasileira é subaproveitada na publicidade

Imagem: Reprodução

Em menos de um ano, ele abriu a agência Gana — que conquistou a conta full-service do guaraná Kuat e emplacou o podcast Mano a Mano, com Mano Brown — e foi indicado ao Caboré na categoria profissionais criativos de 2021. Felipe Silva, sócio e diretor de criação da Gana, uma agência 100% composta por profissionais pretos e periféricos, atribui os frutos dessa jornada à potência criativa brasileira.

Para entender o que isso significa, é preciso olhar para os princípios da fundação da Gana. “A Gana nasce de um incômodo nosso, meu e do Ary (Nogueira), que trabalhávamos há muito tempo no mercado e não conseguíamos colocar nossa potência de preto periférico nas marcas. E o brasileiro é na sua maior parte preto e de classes CDE. A potência criativa brasileira não era aproveitada pelas agências”, diz.

Segundo ele, marcas perdem quando ignoram essa realidade na criação. “Havia uma desconexão da publicidade brasileira, que queria se parecer com a publicidade estrangeira, sendo que temos realmente uma potência aqui. Com a Gana, nosso objetivo é levar as pessoas pretas e periféricas para a linha de frente da comunicação das marcas”, diz Felipe. Isso é muito mais do que seguir um propósito de “diversidade”. É atuar de acordo com a realidade brasileira, nas lideranças e decisões.

Quando essa noção vai para a rua, os resultados confirmam o ponto de Felipe. A Gana conquistou a conta do guaraná Kuat, do grupo Coca-Cola, como agência full-service, com a missão de relançar o produto, começando pelo Nordeste. “Fomos muito a fundo, para buscar uma conexão regional, trazendo verdade. E foi tão verdadeiro que conseguimos atingir em um mês os resultados esperados para um ano.”

Para trabalhar o conceito de “Curta seu sabor, Viva seu lugar” criado pela agência para Kuat, a Gana foi atrás de costumes e comportamentos regionais, buscou ouvir e criar junto com os trabalhadores das fábricas, consumidores, cozinheiras das regiões, que acompanharam a produção das imagens da campanha. Mas não só. Os profissionais da Gana também estão espalhados pelo país.

“A potência periférica como potência de criação não é só discurso. A gente trabalha num modelo de criação aberto, que traz pessoas de fora, com olhar descentralizado do eixo Sudeste. Em São Paulo e no Rio, as pessoas acham que sabem porque viram uma pesquisa. Mas essa vivência das pessoas traz resultado e fica evidente quando a gente vê acontecer.” Com o sucesso, segundo Felipe, os planos de relançamento de Kuat para outros estados acabaram sendo antecipados, começando pelo interior de Minas Gerais.

A Gana também está por trás do podcast Mano a Mano, considerado o conteúdo do ano no Spotify. Lançado em agosto, o programa em que o rapper Mano Brown recebe convidados ilustres para uma conversa aberta já chegou como o mais ouvido no streaming, e se mantém no topo até hoje. Karol Conká, Lula, Drauzio Varella, Fernando Holiday foram alguns dos convidados.

“Temos uma relação próxima com a Boogie Naipe (produtora do Mano Brown). O Brown falava muito sobre esse momento dele, de querer dialogar com as pessoas, para traduzir temas complexos. A gente foi procurado. E pensamos que o melhor lugar para o Brown seria o podcast. Criamos o nome Mano a Mano, nos conectamos com a Mugshot, que veio com a inteligência de produção, e o Spotify.”

Se guiar pela potência brasileira não significa estar distante dos dados. Pelo contrário, é trazer novas lentes para interpretá-los. “A gente tem uma metodologia de estratégia criativa que batizou de xadrez com capoeira. Precisamos do xadrez, dos dados, pensamento analítico, dos insumos de BI, sempre observando os KPIs, mas não podemos nos esquecer da capoeira, do gingado, das pessoas.”


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