Há 25 anos fomentando a cena cultural paulistana, em parceria com marcas, Chico Lowndes é a mente por trás da Central, embaixada cultural no centro de São Paulo, instalada no prédio da antiga subestação Riachuelo. O edifício construído nos anos 20 foi por cerca de dez anos a sede do Red Bull Station, iniciativa da qual também participou. Para ele, marcas que se inserem ativamente na economia criativa estão na ponta dos rumos da cultura.
“Algumas marcas gastam milhões em pesquisas. Outras bebem na fonte. Quem tem dedo no pulso e está na cena cultural sabe antes, chega antes, produz antes, entrega antes e colhe antes. Eu acredito nesse círculo virtuoso”, afirma o empreendedor cultural que já passou por agências como J. Walter Thompson e foi diretor associado da revista VICE Brasil.
Para ele, a economia criativa é vista por grande parte das marcas como veículo e não como valor, missão ou possibilidade de gerar conteúdo consistente. E com isso se perdem oportunidades. “Muitas preferem embarcar em artistas ou cenas consolidadas, muitas vezes de forma artificial. E, com isso, a aderência é menor porque não tem verdade. Você vê muito isso no mercado de influenciadores e canais, onde tem uma forçação de barra, em que claramente a ação foi brifada e paga para acontecer.”
E, quando uma marca participa do nascimento de cenas culturais, o jogo é outro. “Comprar pronto qualquer um pode, mas participar do fomento e do longo prazo, e depois ter propriedade e legitimidade para falar de um determinado assunto são poucas que sabem fazer. E, além disso, a marca pode ter inputs, receber informações primeiro do que as outras.”
É isso que Chico busca com seus projetos na Central. “Eu me coloco como agente de transformação, busco recursos para fomentar talentos, para construir e ajudar as cenas florescerem, para a economia criativa acontecer a partir da sua nascente. Essa é a principal missão, esse papel que tenta exercer, seja da revitalização do centro, seja da diversidade e inclusão na cultura. Essa é a nossa pauta, que a gente trabalha diretamente na nossa curadoria.”
E a vanguarda, segundo ele, está na periferia. “A gente percebe que a tendência que já não é mais tendência, é realidade absoluta, é a questão da música urbana. A periferia é o centro. E a gente abriu de fato as portas e focou na cultura periférica negra, com equipamento de alta qualidade. Somos um dos melhores equipamentos culturais que a cidade tem, um dos melhores estúdios do mundo. Estamos gravando Liniker, Seu Jorge, assim como uma série de novos talentos.”
Entre as revelações da Central, ele cita como exemplo a dupla feminina de rap Tasha e Tracie, além da cantora Bibi Babydoll. “Ela foi número 1 viral do Spotify e provavelmente nenhuma marca escutou falar dela. É disso que a gente está falando, assim como experiência de moda, comportamento, expressão, publico lindo, especial, cultura urbana.”
Na relação com marcas, a Central envolve quatro unidades de negócio. Uma é o próprio edifício, que é um patrimônio cultural tombado e retrofitado, embarcado em tecnologia, usado como locação para produções audiovisuais e eventos. Outra frente é a Embaixada Cultural, com programação e curadoria de eventos proprietários, como festas e feiras de artes. Além disso, a Central Records envolve estúdio, agência e produtora de shows. O quarto braço é o de brand experience. Hoje, a cerveja Estrella Galícia é a patrocinadora do espaço. “A gente comunga em valores similares, de ser independente, original e legítima.”