Sua marca aplica de dentro para fora o discurso antirracista que propaga? Para buscar essa resposta, o perfil True Colors, no Instagram, olha para os quadros de lideranças de companhias globais, e traduz visualmente o que contabiliza: o logo de Adidas é apresentado 100% em branco no perfil, enquanto o da Uber surge num tom de cinza, a 50%.
Criada pela diretora de arte Eleanor Rask e pelo redator Trevor Joplin, ambos da agência norte-americana Goodby Silverstein & Partners, a iniciativa torna visível o quanto companhias têm trabalhado para reduzir desigualdades raciais internamente nas posições decisórias.
Esse índice pode ser confrontado com o posicionamento de marcas em apoio à luta contra o racismo no mundo, após a morte emblemática de George Floyd, sufocado por policiais nos EUA, ter gerado uma onda de campanhas e manifestações públicas. Quem de fato aplica o que diz? E quem só está surfando na onda nas hashtags?
“Muitas marcas estão se manifestando, dizendo que vidas negras importam”, disse Eleanor ao site AdWeek. “Então, decidimos fazer uma pesquisa para ver se as marcas podem acompanhar a conversa. O que descobrimos foi que muitas são dirigidas principalmente por brancos, e foi isso que desencadeou a ideia.”
Guardadas possíveis imprecisões nessa representação — já que ao olhar unicamente para quadros societários e diretorias, reais esforços internos de formar bases para futuras lideranças escapam da observação –, a conta no Instagram faz um retrato atual e aponta para um assunto realmente incômodo para empresas.
Nesse sentido, o True Colors se une a uma tendência de iniciativas independentes, criadas por pessoas físicas, e também organizadas, por pessoas jurídicas, que pressionam o mundo corporativo a ser mais responsável socialmente, como Sleeping Giants e Stop Hate for Profit.
Enquanto Sleeping Giants questiona marcas sobre quais contextos seus recursos de publicidade financiam, a Stop Hate for Profit reúne empresas que boicotam plataformas de redes sociais que lucram com o discurso de ódio. A True Colors vem para adicionar um alerta sobre os investimentos das marcas em pessoas: a quem as empresas dão poder e quem elas privilegiam quando fazem suas escolhas?
Primeira a ser testada, a Nike apareceu no perfil True Colors com seu logo 85% esbranquiçado. Como o fundo usado pelos criativos é de uma tonalidade próxima da cor branca, chega a ser difícil distinguir a imagem. E a ideia é essa mesmo: quanto mais branca a liderança, mais apagada fica a logomarca.
Eleonor explicou ao AdWeek como chegou a essa representação: pegou os logotipos originais e tornou todos pretos. Depois, adicionou uma camada sobreposta em cada um na cor branca, com opacidade proporcional ao índice de branquitude nas lideranças da companhia pesquisada. Há um mínimo contraste com o fundo, que não é um branco verdadeiro, de forma que seja possível enxergar até mesmo um logo 100% branco.
Além de Adidas (100%), Nike (85%) e Uber (50%), já passaram também pelo crivo da dupla marcas como Starbucks (71%), McDonald’s (77% branco), Apple (77%), Microsoft (81%), Amazon (87%), Spotify (88%), CNN (93%), entre outras.