A Apple lançou há duas semanas uma campanha enfatizando a importância da privacidade na vida cotidiana, para promover o iPhone. Agora em abril, chega ao mercado a Yello Stories, uma nova rede social que promete mais privacidade aos participantes. Em comum: o termo privacidade — em torno do qual dilemas e discussões éticas têm provocado uma revisão de políticas no mercado digital — já começa a ser apropriado pelas marcas como valor.
No seu filme bem-humorado, que mostra pessoas impondo limites aos olhares dos outros e às diversas invasões cotidianas, a Apple diz que “privacidade importa”. Mas a mensagem não é só sobre vizinhos bisbilhoteiros. É também um recado à concorrência, que se vê frequentemente às voltas com questões sobre coleta e compartilhamento de dados, e uma resposta a um sentimento crescente do público de estar sendo vigiado pelas empresas.
Em janeiro deste ano, inclusive, durante a CES 2019 — uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, realizada em Las Vegas (EUA) –, a Apple que não participa do evento há anos deu um jeito de estar presente. Em um outdoor que faz alusão ao ditado “O que acontece em Vegas fica em Vegas”, a marca provocou: “O que acontece no seu iPhone fica no seu iPhone”.
Uma nova rede social, a Yello Stories, por sua vez, se prepara para ser lançada no dia 24 de abril no mercado, com a privacidade como mote. O aplicativo que — coincidentemente ou não — estará disponível a princípio só na loja da Apple, promete oferecer modos de compartilhamento de textos, fotos e vídeos apenas para pequenos grupos ou pessoas em específico, tornando a experiência mais restrita.
O resguardo das informações pessoais que circulam em meio às massas de dados foi o que norteou a GDPR (Regulação Geral sobre a Proteção de Dados, na sigla em inglês). O conjunto de normas passou a valer na Europa no ano passado. No Brasil, também em 2018, foi aprovada a Lei de Dados, fortemente inspirada nas regras europeias. As novas diretrizes devem entrar em vigor por aqui em 2020.
Basicamente, as legislações preveem a necessidade da aprovação do usuário para a cessão de dados. Sem esse consentimento, a empresa que usar os dados está sujeita a multas e outras punições.
Marcas podem ir além de se adequar
Especialistas do mercado digital apontam que a transparência deve guiar as boas práticas das empresas que se apoiam em dados, e marcas com maior capacidade de adequação às novas regras de segurança terão vantagem competitiva, podendo sair à frente da concorrência.
Mas não só. Essas companhias podem dar um passo além e incorporar a privacidade nos valores de marca, reforçando o branding e a confiança do público em seus produtos e serviços. Em entrevista para o Meio e Mensagem, Maria Laura Nicotero, CEO da Momentum, diz que “Marcas devem se posicionar de forma mais assertiva quanto à privacidade”. Parece que se trata do que Apple e Yello Stories estão tentando fazer. Será a privacidade o novo hype?