A publicidade brasileira é gordofóbica, aponta a décima onda da Pesquisa TODXS, realizada pela Aliança sem Estereótipos, da ONU Mulheres, em parceria com a Heads Propaganda. A pesquisa divulgada este mês analisou 5.467 comerciais de TV e 1.657 posts no Facebook, em quatro meses de 2021. No período, entre mulheres brancas, não houve nenhuma inserção de modelos e atrizes gordas na TV. No Facebook, o número chegou a 2%. Entre negras, foi de 3%, na TV, e 9%, no Facebook.
“Ao massificar como bonito apenas um tipo de corpo, a publicidade colabora com a ditadura da magreza e estimula o preconceito e o desprezo por outros corpos, em especial os corpos gordos”, diz o texto da pesquisa.
O padrão de beleza feminina mais frequente na propaganda é de mulheres brancas, magras, com curvas, cabelos lisos e castanhos. Esse perfil aparece em 62% dentre as protagonistas das propagandas na TV e 61% das peças no Facebook. Mulheres negras e magras apareceram em 23% das propagandas na TV e em 19% das peças no Facebook. Foram analisadas peças publicitárias de 425 anunciantes, 35 segmentos de mercado e 5 emissoras televisivas
Ainda poucos negros e negras protagonistas
Desde o início da pesquisa, houve avanço na representatividade de mulheres negras na propaganda, que saiu de 4% em 2015 para 27%, em 2021, maior patamar registrado até agora pelo estudo. Entre os homens negros, foi de 1%, em 2015, para 20%, em 2021. Porém, como analisa o estudo, tendo em vista que quase 56% da população brasileira se autodeclare negra, a publicidade brasileira ainda pouco se desafia em narrativas com negros e negras como personagens centrais.
“O racismo se mantém presente na publicidade ao dar pouca voz para pessoas negras. Em termos quantitativos, o protagonismo de homens e mulheres negras parece ter alcançado um teto, que ainda não corresponde à sua representação na sociedade brasileira”, diz a pesquisa.
A presença de negros em comerciais de TV ocorre com mais frequência em peças com vários protagonistas ou grupos de pessoas, aparecendo em 71% dos casos. Mas é importante dizer que esse tipo de narrativa correspondeu a apenas 13% dentre a amostra de TV e 7% no Facebook
Na propaganda de alguns segmentos, há ausência total de diversidade racial. Não foram registrados personagens negros e negras na publicidade de calçados, lar e decoração, automóveis, bebidas não-alcoólicas e turismo. “O fato de a publicidade não dar visibilidade devida às pessoas negras é uma ofensa, uma violência simbólica que alimenta o racismo estrutural”, analisa a pesquisa.
Em outros segmentos, a representatividade racial chega mais próxima à realidade, alcançando mais de 50% de protagonistas negros. Isso foi observado nas peças publicitárias dos segmentos de serviços públicos, telecomunicações, eventos, serviços financeiros, fast food, cuidados com bebês e sites e aplicativos.