Ricardo Silvestre, CEO e fundador da Black Influence, ajudou a escrever novas narrativas transformadoras para a publicidade brasileira quando, ao lado de outros líderes pretos, pisou pela primeira vez no SXSW (South by Southwest). “A gente vivenciou um fato histórico. De longe, foi a delegação mais preta que tivemos no festival”, afirma.
Participar do principal festival de inovação e criatividade do mundo, em Austin (EUA), era algo que, há alguns anos, parecia um sonho distante para Ricardo. Segundo ele, isso apenas se tornou possível hoje porque foi com a própria agência.
“O Brasil sempre mandou representantes muito parecidos, de alto escalão e do board das empresas. E a gente sabe o perfil das pessoas nesses postos: sem diversidade, no máximo, diversidade de gênero. Não tinha pessoas pretas indo. Quando trabalhei em agência, eu não era desses cargos. Chegar ao SXSW com a minha própria agência foi o que possibilitou participar. Ir de forma independente mudou esse cenário.”
Segundo ele, a presença negra no SXSW – que contou ainda com Ian Black (New Vegas), Peter de Albuquerque (Ambev), Luana Génot (Id_Br), Joana Mendes (Clube de Criação) e muitos outros – escreve uma história diferente também porque foi marcada pela intensa produção de conteúdo e compartilhamento de ideias durante o evento.
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“Juntos viramos esse bonde interessante, com um sentimento positivo de assumir um protagonismo que nunca tivemos nesse espaço, de compartilhar aprendizados. Passaram 35 anos de festival com pessoas que guardavam o conhecimento para si e não dividiam com o público. A delegação mais preta foi também a que mais gerou conteúdo. E eu sempre crio pensando se as pessoas vão entender o que eu estou falando, do metaverso aos termos em inglês.”
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O sucesso da delegação preta brasileira rendeu até foto oficial do SXSW, no primeiro dia do festival. A imagem de Ricardo, ao lado dos publicitários Peter de Albuquerque e Renata Hilário, se tornou símbolo desse momento inédito, compartilhado nas redes sociais do evento. “Foi um choque. Foi um post de capa real, ao lado de uma foto da Sandra Bullock. As pessoas paravam a gente depois para saber quem éramos.”
De forma geral, ele observou um público do SXSW muito diverso. “Em muitos recortes: racial, gênero, orientação sexual. É um festival muito dinâmico de verdade. E entre os participantes locais, há uma grande presença afro-americana. Encontramos muitas pessoas pretas”, diz, apontando que isso é algo que se reflete também na propaganda.
“Notei neste tempo nos EUA o quanto pessoas pretas têm destaque na propaganda, e é uma diferença muito grande em relação ao Brasil, dos comerciais na TV às embalagens no supermercado. Quando a gente vê que só agora o Brasil conseguiu ter uma delegação preta num festival, a gente entende o porquê.”
Para Ricardo, um dos momentos mais impactantes do festival foi o painel da cantora Lizzo. “Me afetou pessoalmente ver uma mulher preta e gorda no palco principal. Quando você vê alguém nessa posição lotar um auditório e falar o que quer sem nenhum filtro, quando vê os olhos atentos a ela, isso diz muito sobre a grandeza do evento”, afirma.
Ele destaca que a cantora falou sobre a importância do autoamor, de gordofobia, e incentivou as pessoas a se amarem. “E isso veio muito atrelado ao lançamento do reality que ela apresenta na Amazon Prime Video (“Watch Out for the Big Grrrls“), mostrando como uma marca pode trabalhar de forma saudável esses temas.”