Com a covid-19 ainda sem controle pelo mundo, os grandes eventos de inovação e criatividade de 2022 encontram um cenário incerto para a realização de atividades presenciais a pleno vapor. “Depois de dois anos de pandemia e aprendizado, a palavra que guia 2022 é flexibilidade”, afirma José Saad Neto, head de insights da GoAd Media, agência que realiza curadoria de tendências em festivais, feiras e premiações internacionais.
Saad compara o Web Summit, realizado em dezembro de 2021, em Lisboa, com a edição 2022 do CES (Consumer Electronics Show), em Las Vegas, promovido em janeiro, para ilustrar como o cenário segue instável. De um mês para outro, o contexto da pandemia impactou drasticamente o desempenho dos eventos.
“O Web Summit foi um evento bastante cheio. Muitos brasileiros foram, fluiu quase como antes, exceto pela máscara e a necessidade do passaporte da vacina. Já o CES estava super esvaziado. Eventos antes muito cheios estão irreconhecíveis e sinalizam de imediato que muitas empresas não estão seguras para enviar pessoas.”
Entre os mais esperados na agenda de 2022, o Festival Cannes Lions, na França, e o South by Southwest (SXSW), em Austin, no Texas (EUA), anunciaram a realização de edições físicas este ano, com passes à venda. “Mas todos deixam claro que estão monitorando o contexto, junto com autoridades locais, para realizar os eventos em segurança, deixando sempre aberta a margem para não acontecerem fisicamente.”
Para fazer frente às limitações impostas pela pandemia, ambos construíram ao longo dos dois últimos anos plataformas digitais consolidadas, onde os conteúdos, palestras e salas de networking são disponibilizados de forma remota. Conforme a contingência, seus modelos podem funcionar de forma híbrida ou apenas remota.
“O ganho, o ponto positivo da participação remota, é o acesso. Muitas pessoas que antes não podiam viajar por questões diversas, acompanharam com investimento menor. O lado negativo, que impacta muito, é que nos festivais de inovação, as grandes tendências não surgem só em torno de uma agenda predefinida, mas do encontro de mentes ali reunidas naquele espaço e tempo”, afirma Saad, ressaltando que, apesar disso, a qualidade do conteúdo gerado sobre os eventos não se afeta.
Para acompanhar as mudanças de formato desses eventos, a GoAd Media teve de adaptar sua metodologia. “Os festivais presenciais permitem que nossa equipe se conecte de forma direta e ágil com os speakers. Mas com a realização dos eventos virtuais, as coberturas aconteceram de forma remota e tivemos de correr atrás dos principais speakers e empresas isoladamente. Isso nos impôs um tempo maior para traçar as narrativas.”
Sobre os debates que devem efervescer este ano, Saad diz que sua pré-curadoria aponta que o tema da responsabilidade social segue relevante, dentro do guarda-chuva de ESG (Environmental, Social and Governance). Além disso, começam a ganhar força conversas em torno da economia espacial. “De que forma a exploração fora da Terra propõe ou contribui com soluções para os desafios aqui”, diz.
Outra pauta que chega forte é a do metaverso. Porém, menos do ponto de vista de inovação e tecnologia, e mais como um grande ponto de interrogação. “A construção do metaverso é apenas um hype? Como investidores e anunciantes olham para o metaverso?”