Brainstorm|26 ago, 2025|

AlgoSpeak: a linguagem que dribla algoritmos e desafia marcas

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Fernanda Bottoni - UOL para Marcas

Já ouviu falar em AlgoSpeak? Essa “linguagem algorítmica” é utilizada para burlar algoritmos que monitoram, bloqueiam, excluem ou suprimem algumas palavras que podem ser consideradas inapropriadas ou sensíveis, por exemplo, em redes sociais como Instagram e TikTok, em serviços de e-mail, mecanismos de busca e até em redes Wi-Fi de escritórios.

Um artigo da VML chama a atenção das marcas para o assunto, alertando que subculturas, grupos sub-representados e jovens criadores de conteúdo (creators) estão se tornando mais “fluentes” nesse idioma para se adaptar às restrições do meio.

AlgoSpeak: que língua é essa?

Para explicar que língua é essa, afinal, o texto traz alguns exemplos. “Unalive” é um deles – termo usado no lugar de “die” ou “kill”. Outros exemplos do Algospeak.net, que criou um pequeno dicionário de termos, são “legbooty”, para o termo “LGBTQ”, “nip-nops”, para falar sobre “mamilos” ou “my mascara” para falar sobre um parceiro (tipicamente homem) ao discutir violência doméstica – por exemplo, “My mascara made me cry”.

Nesse exemplo, a lógica é a seguinte. Como “mascara” (“rímel”, em português) é um termo comum em assuntos de beleza e maquiagem, ele passa despercebido pelos filtros automáticos. Quem conhece o código, porém, reconhece facilmente a frase e compreende que o sentido não é literal (“meu rímel me fez chorar”), mas algo como “meu parceiro me fez chorar”.

Ou seja, o AlgoSpeak é uma linguagem que utiliza eufemismos e expressões codificadas para discutir temas que os algoritmos preferem evitar, por causarem controvérsia ou reclamações de outros usuários, por exemplo. A grande questão é que esses termos estão migrando para o offline e aparecendo em conversas cotidianas, gerando mesmo uma transformação na linguagem dos mais jovens.

Evolução linguística

O assunto está ganhando tanto destaque que, em julho de 2025, o linguista Adam Aleksic (@etymologynerd) lançou o livro Algospeak: How Social Media is Transforming the Future of Language, que se aprofunda nas gírias criadas nas mídias sociais e mostra como algoritmos e cultura digital estão moldando a evolução linguística.

Segundo Aleksic, a rápida disseminação da linguagem online está inaugurando uma nova era de etimologia que reflete os valores e as restrições da nossa sociedade orientada por algoritmos. Ele examina inclusive os emojis – afirmando que eles moldaram as estruturas de frases e mudaram a maneira como os usuários se comunicam.

Mas ele não foi o único a estudar o assunto em profundidade. Os pesquisadores Ella Steen, Kathryn Yurechko e Daniel Klug também publicaram, na revista científica Social Media + Society, o artigo “You Can (Not) Say What You Want: Using Algospeak to Contest and Evade Algorithmic Content Moderation on TikTok”, que traz uma lista de novos termos e explica que creators utilizam cada vez mais o AlgoSpeak para contornar restrições de conteúdo que consideram injustas. Para tanto, eles simplesmente alteram ou inventam palavras para que o algoritmo de moderação de conteúdo do TikTok não consiga identificar.

Desafio para as marcas

Por outro lado, o algoritmo premia termos e frases que impulsionam o engajamento ou se conectam a tópicos em alta. E esses também fazem parte do AlgoSpeak – e podem ser especialmente interessantes para as marcas. O artigo traz como exemplos as palavras “rizz” (que significa carisma) e “delulu” (delirante), que geram interação e, por isso, são recomendadas pelos algoritmos com mais frequência.

É importante, porém, que as marcas ganhem alguma fluência em AlgoSpeak antes de embarcarem nesses termos e, ainda assim, utilizá-los, se for o caso, com moderação. Isso porque, ainda que eles possam ser uma porta de entrada interessante para essa cultura em evolução, a VML alerta que algumas dessas palavras estão associadas a comunidades online extremistas que também desejam escapar da censura.

Por isso, marcas que pensam em adotar a linguagem algorítmica devem ter cautela. É preciso conhecer bem não apenas dos dialetos digitais, mas também as culturas que moldam essas novas linguagens.

O UOL conecta cada pessoa ao seu universo e cada marca ao seu target

Brainstorm|26 ago, 2025|

AlgoSpeak: a linguagem que dribla algoritmos e desafia marcas

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Fernanda Bottoni - UOL para Marcas

Já ouviu falar em AlgoSpeak? Essa “linguagem algorítmica” é utilizada para burlar algoritmos que monitoram, bloqueiam, excluem ou suprimem algumas palavras que podem ser consideradas inapropriadas ou sensíveis, por exemplo, em redes sociais como Instagram e TikTok, em serviços de e-mail, mecanismos de busca e até em redes Wi-Fi de escritórios.

Um artigo da VML chama a atenção das marcas para o assunto, alertando que subculturas, grupos sub-representados e jovens criadores de conteúdo (creators) estão se tornando mais “fluentes” nesse idioma para se adaptar às restrições do meio.

AlgoSpeak: que língua é essa?

Para explicar que língua é essa, afinal, o texto traz alguns exemplos. “Unalive” é um deles – termo usado no lugar de “die” ou “kill”. Outros exemplos do Algospeak.net, que criou um pequeno dicionário de termos, são “legbooty”, para o termo “LGBTQ”, “nip-nops”, para falar sobre “mamilos” ou “my mascara” para falar sobre um parceiro (tipicamente homem) ao discutir violência doméstica – por exemplo, “My mascara made me cry”.

Nesse exemplo, a lógica é a seguinte. Como “mascara” (“rímel”, em português) é um termo comum em assuntos de beleza e maquiagem, ele passa despercebido pelos filtros automáticos. Quem conhece o código, porém, reconhece facilmente a frase e compreende que o sentido não é literal (“meu rímel me fez chorar”), mas algo como “meu parceiro me fez chorar”.

Ou seja, o AlgoSpeak é uma linguagem que utiliza eufemismos e expressões codificadas para discutir temas que os algoritmos preferem evitar, por causarem controvérsia ou reclamações de outros usuários, por exemplo. A grande questão é que esses termos estão migrando para o offline e aparecendo em conversas cotidianas, gerando mesmo uma transformação na linguagem dos mais jovens.

Evolução linguística

O assunto está ganhando tanto destaque que, em julho de 2025, o linguista Adam Aleksic (@etymologynerd) lançou o livro Algospeak: How Social Media is Transforming the Future of Language, que se aprofunda nas gírias criadas nas mídias sociais e mostra como algoritmos e cultura digital estão moldando a evolução linguística.

Segundo Aleksic, a rápida disseminação da linguagem online está inaugurando uma nova era de etimologia que reflete os valores e as restrições da nossa sociedade orientada por algoritmos. Ele examina inclusive os emojis – afirmando que eles moldaram as estruturas de frases e mudaram a maneira como os usuários se comunicam.

Mas ele não foi o único a estudar o assunto em profundidade. Os pesquisadores Ella Steen, Kathryn Yurechko e Daniel Klug também publicaram, na revista científica Social Media + Society, o artigo “You Can (Not) Say What You Want: Using Algospeak to Contest and Evade Algorithmic Content Moderation on TikTok”, que traz uma lista de novos termos e explica que creators utilizam cada vez mais o AlgoSpeak para contornar restrições de conteúdo que consideram injustas. Para tanto, eles simplesmente alteram ou inventam palavras para que o algoritmo de moderação de conteúdo do TikTok não consiga identificar.

Desafio para as marcas

Por outro lado, o algoritmo premia termos e frases que impulsionam o engajamento ou se conectam a tópicos em alta. E esses também fazem parte do AlgoSpeak – e podem ser especialmente interessantes para as marcas. O artigo traz como exemplos as palavras “rizz” (que significa carisma) e “delulu” (delirante), que geram interação e, por isso, são recomendadas pelos algoritmos com mais frequência.

É importante, porém, que as marcas ganhem alguma fluência em AlgoSpeak antes de embarcarem nesses termos e, ainda assim, utilizá-los, se for o caso, com moderação. Isso porque, ainda que eles possam ser uma porta de entrada interessante para essa cultura em evolução, a VML alerta que algumas dessas palavras estão associadas a comunidades online extremistas que também desejam escapar da censura.

Por isso, marcas que pensam em adotar a linguagem algorítmica devem ter cautela. É preciso conhecer bem não apenas dos dialetos digitais, mas também as culturas que moldam essas novas linguagens.

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AlgoSpeak: a linguagem que dribla algoritmos e desafia marcas

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Fernanda Bottoni - UOL para Marcas

Já ouviu falar em AlgoSpeak? Essa “linguagem algorítmica” é utilizada para burlar algoritmos que monitoram, bloqueiam, excluem ou suprimem algumas palavras que podem ser consideradas inapropriadas ou sensíveis, por exemplo, em redes sociais como Instagram e TikTok, em serviços de e-mail, mecanismos de busca e até em redes Wi-Fi de escritórios.

Um artigo da VML chama a atenção das marcas para o assunto, alertando que subculturas, grupos sub-representados e jovens criadores de conteúdo (creators) estão se tornando mais “fluentes” nesse idioma para se adaptar às restrições do meio.

AlgoSpeak: que língua é essa?

Para explicar que língua é essa, afinal, o texto traz alguns exemplos. “Unalive” é um deles – termo usado no lugar de “die” ou “kill”. Outros exemplos do Algospeak.net, que criou um pequeno dicionário de termos, são “legbooty”, para o termo “LGBTQ”, “nip-nops”, para falar sobre “mamilos” ou “my mascara” para falar sobre um parceiro (tipicamente homem) ao discutir violência doméstica – por exemplo, “My mascara made me cry”.

Nesse exemplo, a lógica é a seguinte. Como “mascara” (“rímel”, em português) é um termo comum em assuntos de beleza e maquiagem, ele passa despercebido pelos filtros automáticos. Quem conhece o código, porém, reconhece facilmente a frase e compreende que o sentido não é literal (“meu rímel me fez chorar”), mas algo como “meu parceiro me fez chorar”.

Ou seja, o AlgoSpeak é uma linguagem que utiliza eufemismos e expressões codificadas para discutir temas que os algoritmos preferem evitar, por causarem controvérsia ou reclamações de outros usuários, por exemplo. A grande questão é que esses termos estão migrando para o offline e aparecendo em conversas cotidianas, gerando mesmo uma transformação na linguagem dos mais jovens.

Evolução linguística

O assunto está ganhando tanto destaque que, em julho de 2025, o linguista Adam Aleksic (@etymologynerd) lançou o livro Algospeak: How Social Media is Transforming the Future of Language, que se aprofunda nas gírias criadas nas mídias sociais e mostra como algoritmos e cultura digital estão moldando a evolução linguística.

Segundo Aleksic, a rápida disseminação da linguagem online está inaugurando uma nova era de etimologia que reflete os valores e as restrições da nossa sociedade orientada por algoritmos. Ele examina inclusive os emojis – afirmando que eles moldaram as estruturas de frases e mudaram a maneira como os usuários se comunicam.

Mas ele não foi o único a estudar o assunto em profundidade. Os pesquisadores Ella Steen, Kathryn Yurechko e Daniel Klug também publicaram, na revista científica Social Media + Society, o artigo “You Can (Not) Say What You Want: Using Algospeak to Contest and Evade Algorithmic Content Moderation on TikTok”, que traz uma lista de novos termos e explica que creators utilizam cada vez mais o AlgoSpeak para contornar restrições de conteúdo que consideram injustas. Para tanto, eles simplesmente alteram ou inventam palavras para que o algoritmo de moderação de conteúdo do TikTok não consiga identificar.

Desafio para as marcas

Por outro lado, o algoritmo premia termos e frases que impulsionam o engajamento ou se conectam a tópicos em alta. E esses também fazem parte do AlgoSpeak – e podem ser especialmente interessantes para as marcas. O artigo traz como exemplos as palavras “rizz” (que significa carisma) e “delulu” (delirante), que geram interação e, por isso, são recomendadas pelos algoritmos com mais frequência.

É importante, porém, que as marcas ganhem alguma fluência em AlgoSpeak antes de embarcarem nesses termos e, ainda assim, utilizá-los, se for o caso, com moderação. Isso porque, ainda que eles possam ser uma porta de entrada interessante para essa cultura em evolução, a VML alerta que algumas dessas palavras estão associadas a comunidades online extremistas que também desejam escapar da censura.

Por isso, marcas que pensam em adotar a linguagem algorítmica devem ter cautela. É preciso conhecer bem não apenas dos dialetos digitais, mas também as culturas que moldam essas novas linguagens.

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