Como o consumidor do pós-covid irá lidar com o impacto da grande aceleração digital atual, com a sobrecarga de dados, com o excesso de estímulos nas redes sociais e com a pressão constante pelo auto-aprimoramento que se impôs ante tantas transformações radicais? São essas respostas que o white paper “Consumidor do Futuro 2024”, da WGSN Insight, busca apontar, identificando campos de atuação para marcas.
O documento traça cenários mapeando sentimentos que devem predominar entre as massas pelo mundo até 2024. Leva em conta, por exemplo, a alteração da percepção do tempo, a sobrecarga das funções multitarefas impostas pelo home-office, e considera o “FoNo” – medo de retorno ao normal e da perda dos progressos atuais.
Diante disso, o WGSN Insight apresenta quatro perfis de consumidores que devem ser priorizados pelas marcas, analisando os propulsores de comportamentos, desejos e necessidades das pessoas. E traça planos de ação que elas podem implementar hoje para se conectar com o público de amanhã. Veja:
Reguladores
Após anos de incertezas e mudanças impactantes, os reguladores querem controle. Eles buscam o comércio sem contato, assinaturas de serviços e coletas programadas para manter o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Em especial, o estudo identifica a Geração X como controladora. Para esse perfil, será importante que marcas ofereçam previsibilidade e regularidade. Caos e disrupção deixam de ser motivadores.
Como estratégia de varejo para o perfil, o paper prevê o crescimento de lojas ambulantes, no modelo ‘click-and-collect’ em formato híbrido, com robôs, para vendas de itens de rotina. Até 2024, o modelo ‘click-and-collect’ deve movimentar US$ 140,96 bilhões nos EUA, projeta. O comércio por voz e home commerce também será atrativo. “A necessidade dos reguladores de estarem com seus entes queridos sem praticar o ‘phubbing’ (o ato de mexer no celular sem interagir com as pessoas), é uma tendência que cresceu durante a pandemia”, diz o paper.
Conectores
Eles são contrários ao culto à produtividade, que foi exacerbado durante a pandemia gerando recordes de burnout. Para os conectores, isso traz um sentimento de niilismo que os faz questionar os excedentes de produção, impulsionando o valor da sustentabilidade. “A sociedade está na intersecção entre o surgimento de novos valores, a falta de serviços públicos, inflação em alta e salários em baixa. Para os conectores, essa é a tempestade perfeita. As crises econômicas são períodos de ‘destruição criativa’, quando surgem novas ideias e maneiras de se fazer negócio”, diz o paper.
Para engajá-los, será necessário que marcas posicionem seus propósitos sustentáveis, e repensem rótulos e embalagens para comunicá-los. Isso porque, para os conectores, o custo por uso e a sustentabilidade autenticada por certificados serão propulsores de valor. Cada vez mais comuns, as etiquetas com dados de sustentabilidade serão usadas para informar o público e reforçar o compromisso ambiental das marcas. O senso de comunidade será outro valor. O surgimento das DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas), que gerenciam ativos coletivamente, serão prioridade para os conectores.
Construtores de memórias
Durante a pandemia, as pessoas se livraram de objetos e também de relações empoeiradas. Nos seis últimos meses de 2020, o Brasil registrou 43.859 divórcios, uma alta de 15% em comparação ao segundo semestre de 2019. Muitos deixaram relacionamentos tóxicos com amigos, familiares e colegas de trabalho. Isso permitiu às pessoas investirem em novas conexões. O conceito de família está sendo reescrito e novas estruturas estão proporcionando cuidado, amor e suporte. Em 2024, a família será aquela que se cria.
Como estratégia de engajamento para o grupo, o estudo sugere investir na economia do cuidado. “Para os construtores de memórias, envelhecer bem não é uma questão de vaidade. Este grupo quer viver mais e aproveitar a vida do melhor jeito possível. Isso significa que há inúmeras oportunidades nos segmentos de beleza, alimentação, bebidas e tecnologia.” Além disso, deve haver um boom de compras coletivas. “Graças às novas dinâmicas familiares e ao conceito de moradia multigeracional, os Construtores de memórias veem nas compras coletivas benefícios comunitários e econômicos.”
Neosensorialistas
Este é o consumidor híbrido que quer o melhor dos dois mundos: carteiras digitais para compras físicas e momentos em realidade virtual para experimentar na vida real. “Em 2024, prepare-se para lidar com os neosensorialistas. Eles querem pagar um jantar presencial com criptomoeda, desbloquear recompensas no metaverso para usar na vida real e investir em NFT para pendurar a obra na parede de casa. Em vez de terem medo da tecnologia, eles sentem esperança”, diz o paper.
As recompensas metaeconômicas serão um meio de engajá-los em 2024, diz o estudo. Criar estratégias de parceria baseadas em NFTs, games e eventos no metaverso é um caminho interessante, especialmente se for capaz de se conectar ao mundo físico, como a construção de espaços de experiências exclusivas para donos de NFTs. “Os neosensorialistas vão se interessar por tecnologias que permitam sentir o metaverso, de dispositivos hápticos a recursos de olfato.”