Antes mesmo de se tornar palavra da vez, o metaverso já era sinônimo de uma vida animada entre gamers brasileiros. Um dos ambientes digitais mais movimentados, com histórias, comunidades, palcos para celebridades, eventos, ações de marcas e até Carnaval é o Cidade Alta, servidor brasileiro do game GTA (Grand Theft Auto), administrado pela empresa Outplay.
“O Cidade Alta no ano passado teve picos de 250 mil pessoas assistindo simultaneamente às transmissões de eventos realizadas dentro do game”, afirma Paulo Benetti, CEO do servidor e da Outplay. “É a novela dos tempos atuais.”
Para entender o que o executivo quer dizer com “novela”, é preciso saber como o Cidade Alta funciona. O servidor de GTA atua no modo RP (roleplay), criado pela comunidade gamer, no qual os participantes interpretam personagens e vivem no mundo do jogo como pessoas comuns. Nele, gamers seguem jornadas próprias, constroem identidades, ascendem profissional e socialmente.
“Tem pessoas que refletem o que realmente são na vida real e outras inventam o que querem ser. Tem gente que vai para o lado humor, como o Diogo Defante (streamer). A gente vende como a nova novela, porque traz narrativas e dita tendências de consumo. Existe uma nova forma de consumo. As coisas que os personagens usam no jogo acabam sendo replicadas na vida real. Um gamer que ganhou um campeonato dirigindo um Golf azul acabou comprando um igual.”
Quem participa desse ambiente se relaciona não apenas com os demais jogadores, como também com uma audiência externa que acompanha as transmissões ao vivo em plataformas de vídeo. Segundo Paulo, o Cidade Alta conta com mais de 700 streamers e a Outplay agencia influencers que atuam no jogo. Algumas celebridades, como Anitta, também curtem a brincadeira. “Ela entrou durante a pandemia porque sentia falta de palco e de interação e começou a fazer RP. Por três meses foi criadora, e jogava muito.”
De acordo com Paulo, foi durante a pandemia que o Cidade Alta começou a abrigar eventos. “Foi uma expansão, a gente achou oportuno ter um espaço para que as pessoas voltassem a se relacionar.” Foi a senha para marcas cocriarem ações. Primeiro, veio a Brahma, para a qual o servidor criou um evento sertanejo que contou com caminhão de cerveja, bares, fábrica inspirada na planta de Agudos e até uma estátua de Zeca Pagodinho.
No Carnaval, teve trio elétrico com a banda Monobloco e after party com a cantora Giulia Be. “Conectamos 100 influenciadores em cinco dias de Carnaval.” Na festa, embarcaram as marcas Trident, Engov After e Tinder.
Além disso, marcas estabelecem espaços físicos dentro do game, como pontos de venda do Submarino, numa ação para Black Friday, concessionárias da Jeep e pista de rally no lançamento do modelo Compass, e lojas do iFood numa ação de entregas.
Segundo Paulo, os participantes abraçam a presença das marcas. “Tivemos a experiência do streamer Loud Coringa sendo entregador de iFood por um dia. E rolaram imprevistos que acabam sendo conteúdo orgânico, engraçado. Mesmo depois da ação, pedir um iFood no game virou sinônimo de pedir qualquer delivery.”
A tendência daqui para frente é a criação de eventos que cruzem as fronteiras entre o metaverso e a realidade, como foi com a Parada LGBTQIA+ no Cidade Alta. O evento foi um marco por levar as transmissões de lives reais para dentro do jogo, em um telão. Mas a ideia é também fazer o caminho inverso, levando eventos que nascem no jogo para o presencial. “A gente acredita nos eventos híbridos, que acontecem na vida real e simultaneamente dentro do jogo.”