A busca pelo equilíbrio de gênero no trabalho precisa ser um esforço contínuo liderado pelas grandes marcas e companhias, segundo Helen Andrade, head de diversidade e inclusão da Nestlé Brasil. “Porque a gente vive numa estrutura social em que os avanços não acontecem de uma maneira natural e orgânica. Então, se nós não tivermos ações práticas, a equidade não vai acontecer”, disse durante o Universa Talks, evento do UOL que reuniu personalidades e lideranças femininas nesta terça-feira (14).
Ela participou do painel “Que horas elas voltam?”, que discutiu o impacto da pandemia no mercado de trabalho para as mulheres, que foram afetadas de forma mais dura que os homens. Também debateram a questão Tijana Jankovic, CEO do Rappi Brasil, e Raquel Virgínia, cantora e CEO da consultoria Nhaí. Números da OIT (Organização Internacional do Trabalho) apontam para um retrocesso em empregabilidade e equidade, num movimento que já é chamado de “primeira recessão feminina da humanidade”.
“Se a gente não olhar para a questão intencionalmente, vem o retrocesso, porque as cabeças não estão ainda no nível de evolução que permita acontecer naturalmente”, diz a executiva. Ela acredita que desenvolver projetos que incentivem a diversidade podem ser caminhos para que mulheres encontrem saídas e se sustentem melhor em crises.
Mas, segundo ela, mais do que projetos, a palavra de ordem deve ser ação. “A gente tem que sair do lugar de acreditar e apoiar, para fazer e executar. Menos planejamento e mais ação. A gente precisa agir mesmo que não esteja tudo absolutamente estruturado ou todo mundo de acordo, porque a gente precisa começar.”
Ela diz que lidera na Nestlé programas de mentoria para mulheres negras, de contratação e desenvolvimento para mulheres trans e PCDs, e segue metas de contratação de mulheres em lideranças, além da conscientização de todo time. “Mas o que é também fundamental como ação numa empresa é ter um código de conduta efetivo, de respeito para todas as pessoas, que iniba o assédio sexual e o assédio moral. Isso já é um passo importante para que a mulher permaneça e avance na empresa.”
Isso porque, segundo ela, quando o ambiente corporativo é hostil, é a mulher que acaba se demitindo. “E ficar trocando de emprego também produz gaps nas carreiras e acaba sendo um pedágio grande que elas têm de pagar para chegar mais alto em posições de liderança. Então uma empresa ética, com código de conduta e respeito a esse código, apoia muito as mulheres. Esse investimento é fundamental.”
A questão da maternidade é outro ponto que, mesmo em 2022, ainda gera insegurança para mulheres no mercado de trabalho, ressalta Helen. “As mulheres têm muito medo, durante o processo seletivo, de dizer que querem engravidar ou que estão grávidas. Eu contratei uma vez uma menina no meu time que estava grávida de seis meses e só contou na entrevista final. E eu disse ‘Parabéns!’. Ela foi selecionada. A carreira não se faz em seis meses de licença maternidade, isso é um período e ela vai voltar, precisamos naturalizar isso.”
Ela conta ainda que a Nestlé foi uma das pioneiras das licenças maternidade e paternidade estendidas. Para que esse tipo de visão se torne comum, ela diz, o papel das grandes empresas é fundamental. “O maior número de empregos no Brasil não está nas grandes empresas, mas nas micro e pequenas, no empreendedorismo. Mas as grandes têm um poder importante de influenciar a sociedade através de seu posicionamento, sua marca. Então, o nosso papel é seguir fazendo isso de forma ativa e influenciando.”