O discurso de diversidade que se fortalece nas redes sociais não se reflete nas equipes que trabalham no marketing de influência. A constatação é do estudo “Influence Skills – Um retrato das carreiras e salários no mercado de influência no Brasil”, realizado pelo YouPIX, em parceria com a 99jobs, que buscou mapear o perfil dos trabalhadores no segmento.
De acordo com a pesquisa, predominam nos times pessoas brancas (69%), heterossexuais (68,1%) e cisgênero (97,2%) – dado que não é uma novidade no mercado publicitário, mas contrasta com os conteúdos de vanguarda produzidos pela área de influência, nas questões de diversidade. Equidade de gênero é o único ponteiro que mostra representatividade fora da curva, com as mulheres ocupando 76,5% dos postos.
“Para uma área que é o próprio zeitgeist, ainda temos muito a caminhar para um retrato mais inclusivo e diverso”, aponta o relatório. Por meio de questionário digital, o levantamento ouviu 661 profissionais que atuam com influência em agências, marcas e consultorias, ou trabalham como freelancers ou autônomos. As respostas foram colhidas entre 14 e 25 de fevereiro.
A baixa representatividade negra nos times de influência é um dos pontos mais problemáticos apontados. Chama a atenção um recorte que mostra o quanto ambientes de trabalho tradicionais tendem a ser menos diversos. Do total de profissionais que atuam nos anunciantes, 74% são pessoas brancas. Nas agências, este número é de 72%. Os demais, em ambos locais de trabalho, são pretos e pardos.
“A gente tem de assumir neste momento que o trabalho no mercado de influência está passando muito longe da diversidade. A gente viu que, como numa setor tradicional, a área se construiu na branquitude e ainda está promovendo e perpetuando essa branquitude”, disse Fábio Borges, head de reparação social e cultura inclusiva da 99jobs, durante apresentação do estudo.
No mercado de influência, de forma geral, 57,6% dos trabalhadores são registrados — uma fatia baixa de formalização como um todo. Neste grupo, 74% das pessoas com registro são brancas, as demais (26%) são pretas e pardas, mostrando o quanto negros ainda são mais submetidos à informalidade. Além disso, 73% das pessoas brancas ganham benefícios, enquanto apenas 62% dos negros têm acesso.
O estudo mostra que o movimento de entrada de negros no mercado de influência é recente, ou seja, o grupo começou a trabalhar num terreno já iniciado, desbravado e dominado pelas pessoas brancas: 80% das que trabalham há mais de cinco anos com influência são brancas e 67% das posições de liderança (Diretor, VP, C-Level, Presidente) estão ocupadas por pessoas brancas.
Com mais da metade dos negros tendo no máximo três anos de jornada e ainda atuando nas posições iniciais da carreira (assistente e analista), a diferença salarial também é evidente: 34,5% dos negros ganham até R$ 3.500, contra 26,6% dos brancos. Nenhum negro ocupa cargos com salário acima de R$ 25 mil, contra 3,9% dos brancos. “Não estão convidando as pessoas pretas para a festa deste mercado, parafraseando a tão popular definição de Vernã Myers”, diz Fábio.