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Brasil não é EUA: Natura dá exemplo e mercado vê onda anti-DEI com cautela

Imagem: Katie Rainbow/Unsplash

A realidade brasileira não é a mesma da norte-americana. Esse é o recado implícito que a Natura, em carta aberta, declara aos seus consumidores e investidores pelo mundo, ao reafirmar seu compromisso com a sustentabilidade e os direitos humanos, em meio à onda contrária a políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) liderada pelas big techs Meta e Amazon, além da gigante do varejo Walmart, na esteira da chegada de Donald Trump à presidência dos EUA.

“Vivemos tempos que nos convocam a reafirmar o nosso compromisso com a construção de um mundo mais justo, ético e inclusivo. Mais do que nunca, esse esforço precisa ser corajoso, intencional e, sobretudo, coletivo. Não há mais tempo para retrocessos”, afirma o texto, que ressalta ter revisado suas metas para se tornar um negócio regenerativo até 2030, afirmando que diante da crise climática e das injustiças sociais a ação é urgente.

Para especialistas do mercado, com um marco regulatório robusto, com uma população e cultura plurais e uma vasta riqueza ambiental – ainda que sob ameaça –, é importante que o Brasil, suas empresas e marcas enxerguem com clareza o contraste entre os cenários de cada país e compreendam a realidade local, antes de considerar importar qualquer “tendência” de fora, sob o risco de errar na estratégia.

O cenário americano, em todas as dimensões, é muito diferente do cenário brasileiro. Então a gente precisa cuidar para não generalizar e não entender que esse backlash vem com toda a força para o Brasil. O cenário legislativo lá é muito diferente. Aqui a gente tem leis de inclusão de PCDs, igualdade salarial, é obrigatório declarar raça no e-Social, e a legislação que obriga a empresas tenham estratégias para saúde mental. No nosso país é crime assédio, racismo, homofobia”, disse Margareth Goldenberg, CEO da Goldenberg Diversidade e gestora executiva do Movimento Mulher 360, durante a live “Futuro da diversidade: avanço ou retrocesso?”

Além disso, ela ressalta que a demografia no Brasil é completamente diferente da dos EUA, especialmente na questão racial, lembrando o fato de que os negros chegam a 54% da população brasileira e, nos EUA, esse índice fica em torno de 13%. “Ou seja, o contexto é todo diferente. E a efervescência e a pressão da sociedade brasileira em prol do avanço desse tema não retorna mais. Quando a gente consegue enxergar esse gap civilizatório não dá mais para ignorar que ele existe. Não dá mais para não fazer nada com o seu poder, sua influência e seus ativos. Nós no Brasil temos um trabalho consistente. As empresas estão extremamente engajadas.”

Para Nana Lima, sócia e co-fundadora do Think Eva & Think Olga, o momento, embora muito desafiador, pode ser visto como uma oportunidade para que – a exemplo da Natura – marcas e empresas brasileiras apontem novos caminhos para o mundo e para o futuro.

“Não somos parte dos EUA”, disse em texto no LinkedIn. “Não quero passar a impressão de que o que está acontecendo não é muito grave e pode ter consequências sérias para o Brasil. Mas agora, mais do que nunca, é hora de separar o joio do trigo e comprovar que a inclusão e a responsabilidade social são valores das empresas onde trabalhamos. É também uma oportunidade de sairmos do lugar de admiradores dos valores da sociedade norte-americana e passarmos a ser referência, um farol para os EUA e o mundo em práticas de DEI.”


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