O uso das inteligências artificiais no marketing tem oferecido soluções que vão além da criação de peças e otimização de processos digitais. Integrada à análise de dados de consumo das marcas, a ferramenta pode produzir conhecimento sobre jornadas de compra que se traduzem em argumentos para os vendedores das lojas físicas, segundo Raphael Carvalho, CEO da SPOT Metrics, empresa de inteligência de dados para varejo.
“A gente acompanha uma jornada de dados gerados até virar ação na mão do vendedor. Isso passa por uma série de etapas onde entra a inteligência artificial. Por exemplo, ao pegar uma marca com cinco anos de histórico de vendas, rodamos algoritmos para ver possibilidades de cross selling e engajamento para enxergar oportunidades: como alguém que quando compra um item na loja tende a comprar outro ou a sazonalidade de compra de calçados de alguém que corre”, explica.
De acordo com Raphael, isso é possível ao integrar IAs aos dados primários do CRM, que registra um rico histórico das jornadas dos consumidores nas lojas. “Isso extrai oportunidades escondidas nos dados para criar insumos. Com esses insights, as marcas podem criar peças de campanhas a partir de IA no digital, podem escrever em linguagem natural e personalizada para o cliente num e-mail, gerar call to action e também empoderar o vendedor. Como se faz isso? Todas essas oportunidades podem gerar missões para o vendedor no contato com o cliente, com as informações necessárias para ele trabalhar.”
A ideia é que as IAs ofereçam uma base de conhecimento aos vendedores para fortalecer seu discurso de venda. “O bom vendedor vai sempre ser um bom vendedor. E a IA está lá para ajudar. O que eu faço é dar mais capacidade a ele, de maneira que o lojista que tem a experiência do salão de uma loja na mão consiga escalar para as várias de sua rede onde o cliente entrar. Meu sistema vai saber que você comprou em uma das minhas unidades no mês passado, eu pergunto se o vestido novo fez sucesso e aviso que o sapato desejado com o seu número chegou. Você pega um mar de dados e condensa num discurso para o vendedor ser mais eficiente.”
Além disso, as IAs dentro das lojas começam a oferecer às marcas um maior controle sobre a consistência da mensagem nos pontos de venda. “Para marcas que são mais engajadas em termos de discurso e mensagem, as ferramentas ajudam a alinhar o tom de voz de atendimento. Isso era algo que não era possível antes. E você consegue passar isso através da IA sem tirar a identidade do vendedor.”
Raphael explica que essas soluções para lojas fazem parte do desdobramento de um trabalho que a SPOT Metrics vem desenvolvendo para o mercado de shoppings há alguns anos. “Começamos atendendo um segmento específico, que é o varejo dos shoppings, num momento em que havia poucos players pensando em tecnologia para o setor. A gente ocupou esse espaço, temos um software de CRM para shoppings e começamos a fazer América Latina agora. Mas o mercado ficou pequeno e estamos escalando para CRM das marcas e lojas. Estamos em quase 10 mil unidades empoderando o vendedor da loja física.”
Mas o varejo físico tem muito mais a evoluir com as IAs, especialmente com a possibilidade de captura de dados de comportamento de consumo dentro das lojas, por meio de sensores. “A gente vê algumas coisas bacanas acontecendo, com o varejo físico tentando digitalizar a experiência. Numa loja multimarcas é possível saber quantos vestidos de uma arara foram vistos, quantos foram para o provador e geraram check out, produzindo dados sobre o funil de vendas como num e-commerce. O que a gente está fazendo é dar escala para o que os donos das lojas sabiam pela observação. E isso vale para saber o produto que encalha, para giro de estoque, logística, e tornar todo esse processo eficiente.”