A população acredita que a grande responsável pelo desperdício de alimentos no país é ela mesma. Mas quase a totalidade das perdas ocorre ao longo da cadeia produtiva. Essa contradição é apontada no estudo “O alimento que jogamos fora”, realizado pela MindMiners em parceria com a Nestlé. O achado desafia marcas a produzir soluções e ações para o tema, que está ligado à agenda ESG (Environmental, Social and Governance).
De acordo com o levantamento, 75% dos respondentes entendem que a população deveria ser responsável pela redução do desperdício de alimentos do país. Em seguida, atribuem o dever às indústrias de alimentos (44%), seguidas do comércio alimentício (43%) e do governo (39%).
A pesquisa confronta este dado com um mapeamento da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que aponta que 90% do desperdício de alimentos ocorre durante a sua produção e distribuição: 50% das perdas se dão no manuseio e transporte; 30% nas centrais de abastecimento e 10% no campo. Varejo e residências são responsáveis por 10% do desperdício.
A sondagem ouviu 2.000 pessoas em geral e 500 proprietários e colaboradores do setor alimentício. Todos os entrevistados são maiores de 18 anos, com acesso à internet. Participaram pessoas de todos os gêneros, classes sociais e regiões do país, seguindo parâmetros do IBGE. O questionário foi aplicado na plataforma MeSeems, de consumer insights da MindMiners.
A fome é a principal preocupação social para 63% dos entrevistados. A pesquisa apresentou uma lista de questões socioambientais, e pediu para que os respondentes escolhessem os três itens mais preocupantes. A alta da intolerância e da violência (49%) e o impacto das ações humanas no meio ambiente (42%) vieram em seguida, entre os mais citados.
Como medida de combate à fome, para 85% das pessoas entrevistadas no levantamento, reduzir o desperdício de alimentos no país é importante. Nesse sentido, 64% do público geral e 66% dos empresários e colaboradores entrevistados acreditam que estão fazendo sua parte no combate ao desperdício de alimentos.
O sentimento predominante ao descartar alimentos ou testemunhar seu desperdício é o de tristeza, para 50% dos entrevistados. Em seguida, vêm raiva (29%) e desconforto (14%). Outros 14% se sentem tranquilos ou indiferentes (3%).
Segundo o estudo, quando se pergunta sobre a lembrança de marcas envolvidas no combate ao desperdício de alimentos, há praticamente um apagão: 64% dos entrevistados não conseguiram, de maneira espontânea, citar nenhuma que tenha realizado um bom trabalho nesse sentido. As mais lembradas foram Nestlé (por 5% dos respondentes) e Sadia (3%), com Seara, Carrefour, McDonald’s e ifood empatados com 1%
Além disso, 91% dos respondentes desconhecem ou não se recordam de marcas que utilizam selos relacionados ao tema em suas embalagens. De forma geral, 48% dizem considerar os selos como um fator decisivo na escolha de uma marca.
Entre as certificações em vigor no país, o selo “Mesa Brasil”, que reconhece ações de empresas contra a fome e o desperdício de alimentos, é conhecido por apenas 16% da amostra, figurando em sexto lugar entre os mais populares.
Esses dados desafiam marcas a atuar mais nessa causa e comunicar suas ações, ao mesmo tempo que apresentam oportunidades para que se abrace a questão. “As marcas envolvidas nessa missão precisam entender que, antes de unir forças com a população, é preciso primeiro organizar a ‘casa’ para que ela seja vista como exemplo”, recomenda o estudo.