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Samuel Gomes, da Responsa: ‘Se não estivermos lá, publicidade cometerá os mesmos erros’

Negro, de origem periférica e gay. O designer gráfico Samuel Gomes é uma voz conhecida para públicos minorizados e também para o meio publicitário. Ele é youtuber, criador do canal Guardei no Armário, militante das causas negra e LGBT, e está há mais de 10 anos no mercado, circulando entre grandes agências. Agora, ele assumiu a posição de head de criação da Agência Responsa, braço da Bullet de estratégias voltadas aos novos centros urbanos (periferias).

“Não foi fácil chegar até aqui, sou de uma época em que não aceitavam outras pessoas negras nas fotos publicitárias, porque não era vendável. Sou de uma época em que se jurava de pé junto que as campanhas publicitárias tinham que ser só aspiracionais. A família da margarina, o padrão de família americano”, diz Samuel.

Se algo nesse cenário mudou de alguns anos para cá, para ele, não foi apenas por conta das redes sociais, onde muitos puderam amplificar suas vozes. É também resultado de transformações na educação do país, que permitiram a muitos alcançar melhores posições no mercado de trabalho.

“A diversidade começou a acontecer nesse mercado graças às políticas públicas de inclusão. Sou ProUni e repito isso em todos os lugares que vou. Se não fossem esses programas, a publicidade ainda seria ditada por um mesmo CEP: Jardins, Paulista ou Pinheiros”, afirma.

As portas das agências estão mais abertas após o mercado perceber que, sem isso, a conversa com os públicos diversos se enfraquece. “Se não tivemos esse lugar, a publicidade continuará nas mãos dos que cometem os mesmos erros. Sou um grande provocador, não um guri com todas as respostas, mas o que posso garantir é que todos nós perdemos quando não usamos nosso potencial criativo somado à diversidade.”

Samuel, no entanto, enxerga muitos passos a serem dados ainda. “Há muito a se fazer. No mercado publicitário por exemplo, ainda precisamos de mais diversidade em várias lideranças.” A Agência Responsa, por exemplo, montou um time inteiro só de profissionais representantes de minorias negra, LGBT e da periferia.

Isso é importante para poder criar campanhas que refletem não apenas os corpos dos diversos públicos, mas também sua visão de mundo e estilo de vida. “Nós queremos nos ver em produtos que consumimos. Queremos saber se essas marcas se alinham ao nosso posicionamento político, de vida e ética”, diz Samuel.

Para o designer, o público está mais consciente sobre os impactos causados pelas marcas na sociedade. “E a galera mais velha desse mercado terá um trabalho nunca antes colocado em suas pautas. O trabalho de ouvir, de escutar e de entender que se não existe lugar de fala, o lugar que a pessoa ocupará é a de aprendiz, para que juntos possamos arrumar forças e criar algo verdadeiramente genuíno.”

Minibio

Samuel Gomes é graduado em design gráfico pela Universidade Bandeirante. No início da carreira entrou na Wunderman, como motion designer. Passou por agência We, media contacts, W3haus, A Madre, Elemidia e New Vegas. Frilou por um tempo, criou o canal Guardei no Armário, palestrou. Foi embaixador da Natura e da Agência Responsa. Foi diretor de arte na Bullet. É head de criação da Agência Responsa.


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